domingo, 9 de junho de 2019

Ao dotô do avião


Seu dotô, fique ciente, 
Tudo aqui tá bem contente 
Proque no sertão chuve. 
Tudo mudou sintido, 
Tem mio e fejão nascido 
E a chapada enverdeceu. 

Toda noite e demenhã 
O sunga neném e a rã, 
A gia e o foi-não-foi, 
Canta e não para um momento, 
Com o acompanhamento 
Do berro do sapo-boi. 

Onde as água já fez poço, 
Que beleza, que colosso, 
Sa uvi os sapo cantá, 
O cururu baculeja, 
Parece dentro da igreja 
Munto devoto a rezá. 

E inquanto o pobre rocêro 
Todo esperto e prazentêro, 
Trata do trabaio seu, 
Depressa fazendo as pranta, 
odo passarinho canta 
Com as voz que Deus lhe deu. 

De verde a terra se cobre, 
Do sofrimento dos pobre 
Jesus agora deu fé; 
A chuva aqui não foi fraca 
Escangaiou a barraca 
Do comprade Zé Quelé. 

Senhô dotô, me perdoi, 
Porém, estas chuva foi 
Obra das leis naturá, 
É esta, que é a chuva nossa, 
Eu nunca segurei roça 
Com chuva artificiá. 

No Nordeste do país 
O dotô propaga e diz 
Que o avião faz chuvê. 
Se o senhô tanto comenta. 
Proque no ano 70 
Dexou tudo se perdê? 

Com as chuva de artifiço 
Proque não fez benifiço 
Ao povo do Ceará? 
Socorrendo esta pobreza 
Pra não dá tanta despesa 
À Sudene e à Cobá? 

Se Jesus não socorresse 
E o povo daqui vivesse 
Esperando a solução 
Da sua triste ingrisia, 
Eu sei que tudo morria 
Sem vê um pé fejão. 

A chuva que moia e cria 
E quando o relampo bria, 
Depois estôra o truvão; 
Dêrne o vale até a serra, 
Nunca vi chuva na terra 
Mandada por avião. 

Quando as nuve se avoluma, 
Formando uma grande ruma 
Que não pode resisti 
Cai a chuva verdadêra 
De roncá na cachuêra 
E o morro se demoli. 

Seu dotô, tome conseio, 
Já que este seu apareio 
Não pode inverno mandá 
Impregue em ôtro trabaio 
Arranje ôtro quebra gaio, 
Que deste jeito não dá. 

Chuvê quero proque quero, 
É coisa que eu não tolero 
E é fato que eu nunca vi, 
Eu vivo inda incabulado, 
Proque no ano passado 
A minha roça eu perdi. 

Seu avião, seu bisôro, 
Tá fazendo um grande agôro 
Cronta as coisa naturá, 
Respeite o Deus Verdadêro, 
Não mexa nos nevuêro, 
Seu dotô, vá se aquetá! 

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