Seu dotô, fique ciente,
Tudo aqui tá bem contente
Proque no sertão chuve.
Tudo mudou sintido,
Tem mio e fejão nascido
E a chapada enverdeceu.
Toda noite e demenhã
O sunga neném e a rã,
A gia e o foi-não-foi,
Canta e não para um momento,
Com o acompanhamento
Do berro do sapo-boi.
Onde as água já fez poço,
Que beleza, que colosso,
Sa uvi os sapo cantá,
O cururu baculeja,
Parece dentro da igreja
Munto devoto a rezá.
E inquanto o pobre rocêro
Todo esperto e prazentêro,
Trata do trabaio seu,
Depressa fazendo as pranta,
odo passarinho canta
Com as voz que Deus lhe deu.
De verde a terra se cobre,
Do sofrimento dos pobre
Jesus agora deu fé;
A chuva aqui não foi fraca
Escangaiou a barraca
Do comprade Zé Quelé.
Senhô dotô, me perdoi,
Porém, estas chuva foi
Obra das leis naturá,
É esta, que é a chuva nossa,
Eu nunca segurei roça
Com chuva artificiá.
No Nordeste do país
O dotô propaga e diz
Que o avião faz chuvê.
Se o senhô tanto comenta.
Proque no ano 70
Dexou tudo se perdê?
Com as chuva de artifiço
Proque não fez benifiço
Ao povo do Ceará?
Socorrendo esta pobreza
Pra não dá tanta despesa
À Sudene e à Cobá?
Se Jesus não socorresse
E o povo daqui vivesse
Esperando a solução
Da sua triste ingrisia,
Eu sei que tudo morria
Sem vê um pé fejão.
A chuva que moia e cria
E quando o relampo bria,
Depois estôra o truvão;
Dêrne o vale até a serra,
Nunca vi chuva na terra
Mandada por avião.
Quando as nuve se avoluma,
Formando uma grande ruma
Que não pode resisti
Cai a chuva verdadêra
De roncá na cachuêra
E o morro se demoli.
Seu dotô, tome conseio,
Já que este seu apareio
Não pode inverno mandá
Impregue em ôtro trabaio
Arranje ôtro quebra gaio,
Que deste jeito não dá.
Chuvê quero proque quero,
É coisa que eu não tolero
E é fato que eu nunca vi,
Eu vivo inda incabulado,
Proque no ano passado
A minha roça eu perdi.
Seu avião, seu bisôro,
Tá fazendo um grande agôro
Cronta as coisa naturá,
Respeite o Deus Verdadêro,
Não mexa nos nevuêro,
Seu dotô, vá se aquetá!
Nenhum comentário:
Postar um comentário