sábado, 8 de junho de 2019

O poeta da roça



Sou fio das mata, cantô da mão grossa, 
Trabáio na roça, de inverno e de estio. 
A minha chupana é tapada de barro, 
Só fumo cigarro de páia de mió. 

Sou poeta das brenha, não faço a papé 
De argum menestré, ou errante cantô 
Que veve vagando, com sua viola, 
Cantando, pachola, à percura de amô. 

Não tenho sabença, pois nunca estudei, 
Apenas eu sei o meu nome assiná. 
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre, 
E o fio do pobre não pode estudá. 

Meu verso rastêro, singelo e sem graça, 
Não entra na praça, no rico salão, 
Meu verso só entra no campo e na roça 
Nas pobre paioça, da serra ao sertão. 

Só canto o buliço da vida apertada, 
Da lida pesada, das roça e dos eito. 
E às vez, recordando a feliz mocidade, 
Canto uma sodade que mora em meu peito. 

Eu canto o cabôco com suas caçada, 
Nas noite assombrada que tudo apavora,
Por dentro da mata, com tanta corage 
Topando as visage chamada caipora. 

Eu canto o vaquêro vestido de côro, 
Brigando com o tôro no mato fechado, 
Que pega na ponta do brabo novio, 
Ganhando lugio do dono do gado. 

Eu canto o mendigo de sujo farrapo, 
Coberto de trapo e mochila na mão, 
Que chora pedindo o socorro dos home, 
E tomba de fome, sem casa e sem pão. 

E assim, sem cobiça dos cofre luzente, 
Eu vivo contente e feliz com a sorte, 
morando no campo, sem vê a cidade, 
Cantando as verdade das coisa do Norte. 

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